É o terceiro maior museu
em acervo documental do Brasil.
Por ASCOM PML,
em Lages/SC
📷 Daniel Costa / ASCOM PML |
O dia 2 de setembro de
2018 não se apagará jamais das memórias dos brasileiros. Era para ser uma noite
de domingo de descanso, mas o pesadelo só começava. Foi a data em que o Museu
Nacional do Brasil, localizado na Quinta da Boa Vista, São Cristóvão, Rio de
Janeiro, incendiou. Em torno de 90% do acervo histórico e científico viraram
cinzas. Os três andares do edifício foram significativamente destruídos e o
teto desabou. Somente as paredes de concerto resistiram, precariamente. Até
agora trabalha-se com a hipótese de o problema ter surgido a partir de um
curto-circuito. Entretanto, não está descartada a possibilidade de ter sido um
incêndio criminoso. A Polícia Federal (PF) segue nas investigações.
Com a fragilidade do
assunto, museus de 15 Estados, além dos da União, estão passando por inspeções
rigorosas a fim de coibir acidentes que ameacem a preservação de histórias
locais, regionais, estaduais e nacionais, ou prejudiquem a integridade de
funcionários e visitantes destes patrimônios. A iniciativa tem engajamento do
Instituto Brasileiro de Museus (Ibram).
Em Lages, o Museu Thiago
de Castro (MTC) foi selecionado para receber a vistoria, desempenhada na tarde
desta quarta-feira (7 de novembro), por arquiteta do Ministério Público (MP) -
13ª Promotoria Regional do Meio Ambiente de Lages, Conselho Regional de
Museologia (Corem) - 5ª Região e pela Seção de Atividades Técnicas (SAT) do
Corpo de Bombeiros. Cada órgão técnico realizou a análise na sua área de
conhecimento e posteriormente expedirá um relatório, com encaminhamento ao MP.
É uma verificação integral e abrangente, de estrutura física, acondicionamento
de acervo e documentos previstos em lei pelo Estatuto dos Museus, orientação
técnica, ficha de catalogação, livro-tombo e capital humano. Os profissionais foram
recepcionados e acompanhados pelo superintendente da Fundação Cultural de Lages
(FCL), Gilberto Ronconi (Giba) e por historiadores do Museu, além da Secretaria
de Planejamento e Obras, Procuradoria Geral do Município (Progem) e pelo
Serviço Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT). O sobrinho
de Danilo, idealizador do Museu, Armando, apelido Jacaré, esteve presente nas
atividades.
O promotor de Justiça da
13ª Promotoria, Antonio Júnior Brigatti Nascimento, corrobora a situação
nacional e explica que o Ministério Público brasileiro iniciou uma campanha
envolvendo 15 Estados e mais o Ministério Público da União, junto a outros
órgãos técnicos, visando inspecionar as atuais condições dos museus dos Estados
e nacionais. “Em Santa Catarina, todos os museus serão vistoriados. Com os
relatórios concluídos (oficiaremos que emitam em no máximo 30 dias), o MP então
analisará o que poderá ser feito em cada segmento - se há pendência de reforma
ou há falta de regimento interno, por exemplo, e aí o Ministério Público poderá
futuramente emitir recomendações, ou firmar Termos de Ajustamento de Conduta
(TACs) ou ajuizar ação para que se efetivem as melhorias”, salienta o promotor.
Uma reunião então será promovida para haver deliberações sobre as soluções dos
apontamentos. “O promotor elogiou a organização do Museu e parabenizou a
qualidade e a riqueza do acervo. O Museu tem até um pergaminho em papiro, algo
raríssimo de encontrar. Os profissionais reconheceram a habilidade e
potencialidade em cuidar deste patrimônio”, argumenta Giba. Dos museus com
proximidade geográfica ao Thiago de Castro, o de Itapiranga, no Extremo-Oeste,
também passará pela força-tarefa de análises.
Preventivos de incêndio e de
pânico
O enfoque dos Bombeiros
no Museu foi a inspeção dos sistemas preventivos de incêndio e de pânico -
presença, validade e funcionamento de extintores, hidráulico, iluminação de
emergência, sinalização de abandono de local (saída de emergência), alarme. O
laudo físico é confeccionado nesta quarta mesmo. O digital deve ficar pronto
até esta sexta (9). Para os sistemas vitais há prazos curtos, para atendimento
das orientações sobre extintor. Iluminação e placas de sinalização de abandono
de local é de 15 a 30 dias.
Digitalização
Todo o acervo do MTC está
passando por um levantamento e processo de digitalização, com sua devida
manutenção e identificação de materiais que até então já existia, mas não havia
sido divulgado. “Nem todos têm a dimensão da riqueza que temos sob nossos
olhos, bem perto e acessível. Para nós é uma grata surpresa termos sido
selecionados entre 14 museus do Estado, é uma forma de reconhecimento da sua
participação e valor à história”, celebra Giba, observando, aliás, que “antes
mesmo do triste evento no Rio de Janeiro já tínhamos esta preocupação,
obviamente que aumentou. Já havíamos solicitado a vistoria dos Bombeiros, parte
de dedetização, alocação dos materiais”. Na semana passada, o Corpo de
Bombeiros procedeu com uma supervisão, incluindo a parte de acessibilidade, o
que já está resolvido. “Por ser um prédio histórico há escadas. A realidade
atual é outra. Hoje quando se vai fazer uma construção todos estes critérios
são obrigatórios. Como é um bem tombado temos de nos adaptarmos.”
O Museu funciona de
segunda a sexta-feira, das 9h ao meio-dia e das 14h às 18h. Para pesquisadores,
com ênfase às terças e quartas-feiras. Há cerca de um ano o Museu está abrindo
suas portas ao público pela manhã, das 9h30min às 13h, com oportunidade de
visitação aos finais de semana. Contato: 3222-7603.
Você não pode deixar de sugar o conhecimento
de dentro do Museu
Para contextualizar, o
Museu Thiago de Castro recheia seu povo a partir de comprovações históricas de
Lages desde sua fundação, documentos e imagens dos séculos XVIII e XIX:
Lageanos ilustres; passos políticos; registros de veículos de comunicação, a
exemplo de todas as edições do Jornal Correio Lageano, que em 2018 comemora
seus 79 anos de fundação; jornais antigos que hoje não existem mais, como “O
Lageano” (exposição passada pela Biblioteca Pública Carlos Dorval Macedo e
agora no Lages Garden
Shopping); livros de registros com atas das primeiras sessões da
Câmara de Vereadores, desde 1870; ata da fundação de Lages, em 1766; relíquias
que congelam o tempo, como o rodado do carro de boi que transportou as pedras
para a construção da Catedral Diocesana; armas de guerra e lutas regionais, e
utilizadas pelos escravos e soldados; utensílios de trabalho e domésticos;
peças de vestuário, e peças curiosas, como máquinas de datilografia e
calculadoras antigas. Uma infinidade de itens de acervos documental e de peças,
ultrapassando 30 mil artigos.
O idealizador do Museu,
Danilo Thiago de Castro, começou a estruturá-lo aos 17 anos, em 1937. Os
materiais e objetos eram recolhidos diretamente nas residências, normalmente
quando as pessoas faziam as tradicionais limpezas de final de ano. Era um
hábito reservar os artigos para doar ao senhor Danilo, que anteriormente era
localizado em uma sala na rua Hercílio Luz, no Centro. Atualmente está
localizado na rua Benjamin Constant, no prédio do antigo Fórum Nereu Ramos.
Após o falecimento do
senhor Danilo, em uma parceria entre sua família, o MP e através do espólio
junto ao Município, a prefeitura comprou todo o acervo, tornando o Museu um bem
público. Até 2011 era particular. A Associação Amigos do MTC participou desta
transição. Depois firmado um convênio de manutenção e guarda do acervo, que
findou.
Boa parte dos documentos
arquivados em Lages não existe em outros do país, sobretudo da época da
escravatura. É o terceiro maior museu em acervo documental do Brasil.