Por FLÁVIA ALBUQUERQUE da AGÊNCIA BRASIL,
em Brasília/DF
📷 Alejandro Ernesto / EPA / Agência Lusa / Direitos Reservados |
Um senhor de mais de 60 anos, vibrante, contestador,
revolucionário e que provoca as mais diversas sensações e reações em quem tem
contato com ele ou em quem não vive sem ele.
Este é o rock'n'roll, um
estilo musical que nasceu entre as décadas de 1940 e 1950, nos Estados Unidos,
e se popularizou para o mundo. Para celebrar a relevância do ritmo, que varia
entre diversos estilos e épocas, foi instituído no Brasil o Dia Mundial do
Rock, comemorado hoje (13).
A data é uma alusão ao Festival Live Aid que ocorreu
em 1995, simultaneamente, na Filadélfia, nos EUA, e em Londres, na Inglaterra,
com a participação de artistas de rockda época,
para conscientizar a população mundial sobre a situação drástica de fome e
pobreza da África, além de arrecadar fundos para a causa. Durante o show,
transmitido ao vivo para vários países, o cantor e baterista Phil Collins
sugeriu que a data fosse lembrada como Dia Mundial do Rock.
"Houve um ano em que a ONU (Organização das
Nações Unidas) fez uma menção condecorando o Live Aid e isso foi divulgado no
Brasil e comemorado pelas rádios brasileiras. Foi aí que instituíram que a data
seria o dia do rock. Isso pegou
forte aqui no Brasil. Lá fora, eles não comemoram como dia do rock, mas todo ano eles lembram
desse fato importante que foi o Live Aid", disse o locutor da rádio
paulistana voltada para o gênero, Kiss FM, Rodrigo Branco.
Embora muita gente afirme que o rock já morreu, para Branco
isso não aconteceu e nunca acontecerá, mas é fato que o estilo passa por ondas,
o que é normal, por ser um evento musical que surgiu há mais de 60 anos. “É
natural que atualmente não tenha mais a força que teve no passado. De certa
forma, convivemos com outros estilos mais atuais e modernos que impactam a
juventude e, por isso, já não tem mais a relevância que teve no sentido de
alcançar as massas."
A popularização de outros estilos musicais mais
comercialmente rentáveis foi um dos fatores para que o cenário rock encolhesse no
Brasil, fazendo com que a grande mídia deixasse de dar espaço para as bandas.
"Isso não quer dizer que tenha acabado, mas a quantidade de oferta para o
grande público é menor. Até a década de 1990, o estilo musical ainda aparecia
nos programas populares de televisão.
Isso fazia o rock atingir
mais a população, dando mais força para o gênero".
Para o produtor e apresentador da mesma rádio, Samuel
Canalli, um dos fatores que não deixaram a modalidade morrer foi justamente o
público criado com várias bandas e estilos diferentes. "O público sempre
vai se renovando e o interesse nunca morre. As pessoas sempre vão querer saber
sobre o rock, tanto que as bandas tocam
aqui e enchem estádios."
Canalli define o rock com
uma palavra: revolução. “O rock é um
gênero que surgiu para contestar os padrões da sociedade e os comportamentos
que essa mesma sociedade espera e impõe. O rock começou com os jovens se
rebelando contra isso. Revolução combina muito com o rock."
O proprietário do Manifesto Bar, Silvano Brancatti,
define o rock como um estilo de vida e
uma forma de expressão. “Para muitos há bandas que são como religião. Para quem
toca é uma forma de transmitir mensagens de forma mais forte. Há várias
vertentes que dão a possibilidade de manifestação e transmissão de mensagens.”
Foi em uma conversa entre dois irmãos e um amigo que
surgiu a ideia de criar um local para reunir aqueles que como eles, gostavam do
estilo. "Em uma certa noite, pensamos: porque não juntar o agradável
com o trabalho, fazer algo que gostamos realmente? Por isso, decidimos montar a
casa. Pela necessidade que havia no mercado e para tentar unir o que nosso
público precisaria, um bom atendimento, cerveja gelada, música boa. E esse é o
segredo de existirmos até hoje", ressaltou.
Em 25 anos de existência, o bar, que é referência para
os fãs, teve apresentações de bandas como o Skid Row, Marky Ramone,
ex-baterista da banda Ramones, e visitas ilustres de membros de bandas
internacionais que passam por São Paulo para fazer shows. "Elas acabam
passando aqui para curtir a balada. Passaram por aqui Deep Purple, Iron Maiden,
Motorhëad, Helloween, Rammstein. Eles vêm e, a partir do momento em que sentem
à vontade, acabam se soltando e fazendo uma jam,
participando com os músicos da casa".
O bar apoia também as bandas nacionais, dando espaço
para as covers, bandas que fazem
tributos aos artistas. “Essas bandas são importantes para manter o rock vivo, porque o Brasil
está na rota dos eventos, mas não é todo final de semana que tem show, como nos
EUA, então, o que deixa o rock vivo são
as bandas cover que representam
muito bem as oficiais."
Nos corredores da Galeria do Rock, um centro comercial
existente desde 1963 e localizado na região central da capital paulista, o
pintor e tatuador de 40 anos, Caio José da Silva, disse que admira o estilo
desde os sete anos de idade. A influência veio dos irmãos mais velhos que já
ouviam bandas como Kiss, Led Zeppelin, entre outras. "Veio no sangue! O
rock dá energia para nós que batalhamos muito no dia-a-dia. O rock ajuda a extravasar de uma
forma cultural e pacífica. Deveríamos ter vários dias do rock, apesar de que rock é todo dia, rock é cultura".
O tatuador Erich Demuro, de passagem pela cidade para
visitar a família, também ouve o estilo musical desde criança, depois de seu
pai o ensinar a ouvir música com o fone de ouvido plugado na vitrola. Desde
então, o gênero musical se tornou uma religião em sua vida. "Os
primeiros álbuns aos quais eu tive acesso foram The Dark Side of the Moon, do
Pink Floyd, Emerson Lake and Palmer, entre outros. O rock é algo que dá para se
comparar a algo divino. É uma coisa que está no DNA, é indescritível".
Álvaro Augusto é funcionário de uma das mais
tradicionais e antigas lojas de discos da Galeria do Rock. Segundo ele, a loja,
que existe há 26 anos, tem clientes fiéis, que acompanham os lançamentos,
encomendam títulos e pesquisam sobre as bandas. "Para se ter uma ideia,
temos caixas de coleções de discos de vinil que custam R$ 3,9 mil, como uma dos
The Beatles, que reúne toda a obra da banda. Desde 2012 Já vendemos mais de 50
dessas."